O curso de geografia e história da FFCL/USP e a constituição de um campo disciplinar em São Paulo (1934-1968)

O curso de geografia e história da FFCL/USP e a constituição de um campo disciplinar em São Paulo (1934-1968)

O curso de geografia e história da FFCL/USP e a constituição de um campo disciplinar em São Paulo (1934-1968)

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  • Modelo: 9V81602
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Debruçar-se sobre o próprio ofício constitui um exercício exigente e por vezes árduo quando feito pelos historiadores e Diogo Roiz tem todos os méritos por ter construído há tempos uma trajetória significativa nessa direção. Com este trabalho sobre a trajetória da escrita da História e do seu ensino na (atual) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), o leitor é guiado em um percurso historiográfico de grande relevância e rica contribuição para a compreensão do regime de cátedras vigente na instituição entre 1934 e 1968.
Uma questão de fundo orienta a pesquisa documental e bibliográfica densa, a do surgimento do historiador profissional no Brasil. Para respondê-la são percorridas trajetórias institucionais e mais abrangentes de docentes e historiadores que implantaram as estruturas curriculares de História e de Geografia – assim foi o nascimento do curso – ao longo de décadas. Depoimentos e correspondências que expressam a escrita de si por docentes e seus alunos foram cotejados com documentos oficiais para que se desvendassem os procedimentos de contratação de professores, a implantação de estruturas curriculares e de programas de ensino e o trânsito do autodidatismo à adoção de cânones historiográficos hegemônicos na Europa, desde os metódicos até os participantes dos grupos da revista/“escola” dos Annales.
Para além dessa perspectiva, o trabalho abre pistas sugestivas para a compreensão de outro aspecto da questão, a formação de professores para a educação básica em São Paulo, os antigos cursos primário e ginasial. Em plena expansão desse nível de educação formal, a adequada formação dos professores de História era tarefa a ser enfrentada num curso superior que dava conta também de formar pesquisadores num processo de ensino superior tardiamente iniciado se consideradas outras áreas, como o Direito e a Medicina.
Para o autor, o surgimento da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas ocorreu não apenas em função do contexto da derrota pelas armas da reação paulista à perda de hegemonia política em 1932, como é comumente justificada sua fundação, mas também decorreu de um processo de modernização da sociedade brasileira pós-1930, em plena era Vargas.
Nesse sentido, o balanço crítico da historiografia apresentado permite ao leitor acompanhar as nuances interpretativas da questão e enveredar pela análise centrada na apropriação dos aportes teóricos de Bourdieu e Sirinelli que se revelam fecundos para o estudo das trajetórias de intelectuais e suas formas de sociabilidade e das relações de poder nelas vigentes.
É esse enfoque que autoriza o autor analisar a carreira universitária no regime de cátedras como majoritariamente masculina e apresentar os dados que permitem ao leitor discernir como contrapartida dessa sociabilidade formadora do reduto feminino, a expansão do ensino secundário que abria as portas para a formação de professoras, as quais surgem na pesquisa como
alunas dos catedráticos. Contradições que revelam o descompasso entre os dois níveis de ensino, distanciados pela atividade de pesquisa, esta sim, reduto masculino por excelência, bem como a formação de um mercado de trabalho no ensino secundário com características muito peculiares.
Docentes franceses em início de carreira abalaram-se do além-mar para formar aqui práticas historiográficas inovadoras em relação ao posicionamento metódico que impregnava o autodidatismo dos intelectuais brasileiros. De Afonso de Taunay a Alfredo Ellis Júnior, pioneiros do regime de cátedras, o estudo perpassa a presença de nomes da estatura de Braudel, o grande paradigma, além de Monbeig, De Martonne, Gagé, Deffontaines, para alcançar Sérgio Buarque de Holanda, Eurípedes Simões de Paula e Eduardo d’Oliveira França como consolidadores do curso que na década de 1950 abandonou a interdisciplinaridade restritiva da dupla formação para se tornar enfim o curso de formação exclusiva de pesquisadores e professores de História, com fértil produção de pesquisa e formadores de gerações de historiadores.

Características
Autor Diogo da Silva Roiz
Biografia Debruçar-se sobre o próprio ofício constitui um exercício exigente e por vezes árduo quando feito pelos historiadores e Diogo Roiz tem todos os méritos por ter construído há tempos uma trajetória significativa nessa direção. Com este trabalho sobre a trajetória da escrita da História e do seu ensino na (atual) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), o leitor é guiado em um percurso historiográfico de grande relevância e rica contribuição para a compreensão do regime de cátedras vigente na instituição entre 1934 e 1968.
Uma questão de fundo orienta a pesquisa documental e bibliográfica densa, a do surgimento do historiador profissional no Brasil. Para respondê-la são percorridas trajetórias institucionais e mais abrangentes de docentes e historiadores que implantaram as estruturas curriculares de História e de Geografia – assim foi o nascimento do curso – ao longo de décadas. Depoimentos e correspondências que expressam a escrita de si por docentes e seus alunos foram cotejados com documentos oficiais para que se desvendassem os procedimentos de contratação de professores, a implantação de estruturas curriculares e de programas de ensino e o trânsito do autodidatismo à adoção de cânones historiográficos hegemônicos na Europa, desde os metódicos até os participantes dos grupos da revista/“escola” dos Annales.
Para além dessa perspectiva, o trabalho abre pistas sugestivas para a compreensão de outro aspecto da questão, a formação de professores para a educação básica em São Paulo, os antigos cursos primário e ginasial. Em plena expansão desse nível de educação formal, a adequada formação dos professores de História era tarefa a ser enfrentada num curso superior que dava conta também de formar pesquisadores num processo de ensino superior tardiamente iniciado se consideradas outras áreas, como o Direito e a Medicina.
Para o autor, o surgimento da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas ocorreu não apenas em função do contexto da derrota pelas armas da reação paulista à perda de hegemonia política em 1932, como é comumente justificada sua fundação, mas também decorreu de um processo de modernização da sociedade brasileira pós-1930, em plena era Vargas.
Nesse sentido, o balanço crítico da historiografia apresentado permite ao leitor acompanhar as nuances interpretativas da questão e enveredar pela análise centrada na apropriação dos aportes teóricos de Bourdieu e Sirinelli que se revelam fecundos para o estudo das trajetórias de intelectuais e suas formas de sociabilidade e das relações de poder nelas vigentes.
É esse enfoque que autoriza o autor analisar a carreira universitária no regime de cátedras como majoritariamente masculina e apresentar os dados que permitem ao leitor discernir como contrapartida dessa sociabilidade formadora do reduto feminino, a expansão do ensino secundário que abria as portas para a formação de professoras, as quais surgem na pesquisa como
alunas dos catedráticos. Contradições que revelam o descompasso entre os dois níveis de ensino, distanciados pela atividade de pesquisa, esta sim, reduto masculino por excelência, bem como a formação de um mercado de trabalho no ensino secundário com características muito peculiares.
Docentes franceses em início de carreira abalaram-se do além-mar para formar aqui práticas historiográficas inovadoras em relação ao posicionamento metódico que impregnava o autodidatismo dos intelectuais brasileiros. De Afonso de Taunay a Alfredo Ellis Júnior, pioneiros do regime de cátedras, o estudo perpassa a presença de nomes da estatura de Braudel, o grande paradigma, além de Monbeig, De Martonne, Gagé, Deffontaines, para alcançar Sérgio Buarque de Holanda, Eurípedes Simões de Paula e Eduardo d’Oliveira França como consolidadores do curso que na década de 1950 abandonou a interdisciplinaridade restritiva da dupla formação para se tornar enfim o curso de formação exclusiva de pesquisadores e professores de História, com fértil produção de pesquisa e formadores de gerações de historiadores.

Comprimento 23
Edição 1
Editora ALAMEDA
ISBN 9786586081602
Largura 16
Páginas 518

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